Que tipo de Espírita é você?

Já na época da elaboração do segundo livro da codificação Allan Kardec podia observar entre aqueles que se “convenceram por um estudo direto“, quatro distintas categorias ou tipos dos auto-denominados Espíritas. O pesquisador francês, chamado em seu funeral de “o bom senso encarnado” por seu amigo e confrade Camille Flammarion, era possuidor de um poder de síntese admirável e assim classificou os adeptos da recém inaugurada Doutrina Espírita (grifos nossos):

“1º Os que crêem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles, o Espiritismo é apenas uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos. Chamar-lhes-emos espíritas experimentadores.

2º Os que no Espiritismo vêem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos.

3º Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem em praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.

4º Há, finalmente, os espíritas exaltados.A espécie humana seria perfeita, se sempre tomasse o lado bom das coisas. Em tudo, o exagero é prejudicial. Em Espiritismo, infunde confiança demasiado cega e freqüentemente pueril, no tocante ao mundo invisível, e leva a aceitar-se, com extrema facilidade e sem verificação, aquilo cujo absurdo, ou impossibilidade a reflexão e o exame demonstrariam. O entusiasmo, porém, não reflete, deslumbra. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos aptos para convencer a quem quer que seja, porque todos, com razão, desconfiam dos julgamentos deles. Graças à sua boa-fé, são iludidos, assim, por Espíritos mistificadores, como por homens que procuram explorar-lhes  a credulidade. Meio-mal apenas haveria, se só eles tivessem que sofrer as conseqüências. O pior é que, sem o quererem, dão armas aos incrédulos, que antes buscam ocasião de zombar, do que se convencerem e que não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Sem dúvida que isto não é justo, nem racional; mas, como se sabe, os adversários do Espiritismo só consideram de bom quilate a razão de que desfrutam, e conhecer a fundo aquilo sobre que discorrem é o que menos cuidado lhes dá.” Livro dos Médiuns, Capítulo III, item 28

Infelizmente o que o Movimento Espírita nos apresenta, nos dias atuais, é quadro ainda bastante distante do ideal imaginado pelo Codificador do Espiritismo. Diante da nossa experiência nas casas espíritas, podemos afirmar, sem medo de errar, que a maior parte dos seus frequentadores gravitam entre os tipos 2 (imperfeitos) e 4 (exaltados), considerando obviamente apenas os que se dizem Espíritas.

Há poucos do tipo 1 (experimentadores) e a explicação está no direcionamento religioso que o Movimento tem no Brasil, muitas vezes bloqueando pesquisas importantes sob a desculpa destas serem fruto de mera curiosidade. Esquecem que foi justamente esta curiosidade que direcionou a Humanidade a todas as suas descobertas no campo científico. Importante adicionar a esta observação que o ideal sempre será que estas pesquisas venham da própria comunidade acadêmica, que dará credibilidade e isenção aos resultados.

Movendo finalmente o foco para o tipo ideal descrito por Kardec, o tipo 3 (cristãos) observamos que este é o mais escasso de todos, entretanto o mais atuante e o que faz a grande diferença dentro do contexto brasileiro, um país cheio de desigualdades sociais. Lembro de entrevista com o Marcel Souto Maior, ainda na época do lançamento da primeira edição da biografia de Chico Xavier, quando ele comentava que antes de conhecer o Movimento Espírita, achava o assistencialismo um erro, mas ao ver o trabalho “formiguinha” que milhares de casas espíritas realizam em todo o país, reconheceu que há sim um grande valor neste trabalho. Basta imaginar o impacto social que teríamos se todo esse esforço no bem, aos mais necessitados, cessasse de repente. Sem contar ainda o imenso benefício que os trabalhos sérios no campo da desobsessão realizam tanto para os pacientes encarnados quanto para a população de desencarnados que afluem para os centros espíritas em desajuste espiritual.

Este é o estado atual da Humanidade, a maioria de nós ainda encontra-se em uma espécie de “adolescência espiritual”, cheios de si, cheios de “verdades”, mas incapazes de resistir a um chamado dos prazeres fátuos que a vida material nos oferece. Tempos se aproximam em que a minoria tornar-se-á maioria, que a madureza direcionará o Espírito Humano em direções regeneradoras. Cada movimento e grupo de trabalho que hoje se organiza na Terra, objetivando o estudo da natureza sutil do universo, e que usa esses conhecimentos para o crescimento moral de todos é agente do Alto neste processo de transição.

A pergunta que fica então é: Que tipo de Espírita é você hoje?

4 Respostas

  1. Excelente artigo. Minha religião é meu pensamento, e sou apenas simpatizante do espiritismo… Porém em realidade também afirmo isso porque sei que ainda estou um tanto distante de ser um espírita ou cristão real – talvez (certamente em outras vidas) um dia consiga.

    Mas por enquanto, estou feliz em “gravitar” entre os tipos 1 e 2, com enorme esforço para chegar ao 3… E com enorme cuidado para não chegar nem perto do 4 🙂

    Abs
    raph

  2. Obrigado Rafael,

    O principal motivo por que decidi escrever este artigo foi a minha própria auto análise. Assim como você acredito não passar do segundo tipo, mas continuo buscando a cada dia sair da inércia do dia-a-dia para transformar cada ato meu em uma construção de crescimento na caridade.

    seja bem vindo ao blog e volte sempre,
    abraço,
    O Espírito

  3. Olá,espírito

    De espírito para espírito rsrs
    não posso ainda, definir-me como espírita de fato,mas como , espírito que dia a dia ,trava uma batalha incessante com minhas imperfeições. oh,céus! como é difícil burrilar esses defeitos!

    Abraços fraternos

    Rosana

  4. Kardec como sempre didático! Conheço alguns Espíritas Verdadeiros do tipo 3, são poucos porém marcantes. Os do tipo 1 estão acabando aos poucos e inclinando a ciência para aplicá-la na moral cristã. Os do tipo 2 Espíritas Imperfeitos, são vários (me incluo neles), porém a grande maioria se esforça (e muito) para alcançar um pouco do tipo 3. Os exaltados estão sempre por aí e realmente acreditam em todo tipo de coisa que os Espíritos falam… Acho que não dá pra classificar pontualmente nem rotular as pessoas, pois num mundo imperfeito como o nosso cada um tem um pouquinho de cada tipo.

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